John Jefferson Davis, “A Perseverança dos Santos: uma História da Doutrina”

John Jefferson Davis, “A Perseverança dos Santos: uma História da Doutrina”

 

[Favor observar que o autor é um teólogo Calvinista, mas essa é uma revisão histórica da doutrina que não implica em o autor debater seu ponto de vista. A versão web desse artigo foi extraído de http://bringyou.to/apologetics/a133.htm. O formato original do artigo que consta no Journal of the Evangelical Theological Society pode ser encontrada nesse arquivo pdf: Davis History of The Perseverance of the Saints.]

 

John Jefferson Davis, “The Perseverance of the Saints: A History of the Doctrine”, Journal of the Evangelical Theological Society 34/2 (June 1991) 213-228.

 

 

 

 

  1. AGOSTINHO

O primeiro amplo debate sobre a doutrina da perseverança dos santos encontra-se no Tratado de Agostinho sobre o Dom da Perseverança, escrito em 428 ou 429 A.D. no contexto das controvérsias com Pelágio quanto as questões da graça, pecado original e predestinação. [1] Logo de início, Agostinho afirma a graça de Deus como a base elementar para a perseverança do crente: “Eu afirmo… que a perseverança pelo qual nós perseveramos em Cristo até o fim é dom de Deus.” [2] Do ponto de vista humano é inescrutável a razão de que a dois homens piedosos, é dado a um deles a graça de perseverar até o fim e ao outro não. Da perspectiva divina pode ser o caso que o indivíduo que persevera está entre os predestinados, enquanto o outro não está. [3] Aquele que falha em perseverar, não foi chamado segundo o plano de Deus, e nem escolhido em Cristo de acordo com o propósito de Deus. [4]

A soberania de Deus na eleição e predestinação é então, a base para a compreender Agostinho quanto a perseverança final. A graça de Deus “a qual inicia a fé do homem e que o capacita para perseverar até o fim, não é dada por conta dos nossos méritos, mas é dada consoante ao Seu mais secreto e ao mesmo tempo mais justo, sábio e beneficente vontade; desde que aqueles que Ele predestinou, a eles também chamou, com aquele chamado do qual se diz, ‘Os dons e o chamado de Deus são sem arrependimento.’ [5]

É claro para Agostinho, baseado na compreensão que ele tem dos textos Paulinos em Romanos, que o eleito de Deus irá certamente perseverar até o fim e obter a salvação eterna.

Diferentemente de Calvino, e daqueles da tradição Reformada posterior, Agostinho não acredita que o Cristão possa nesta vida saber com infalível certeza que ele na verdade está entre os eleitos e que ele irá perseverar. De acordo com Agostinho “enquanto nesta vida, é incerto se alguém recebeu esse dom.” [6] A vida do crente neste mundo é um estado de provação, e aquele que está de pé deve cuidar para que não caia. [7] É possível experimentar o renovo da regeneração batismal, e a graça justificadora de Deus, [8] e não perseverar até o fim. O reconhecimento dessa possibilidade deveria fazer a confissão de fé do crente “humilde e submissa” e levar a contínua dependência da graça de Deus. A compreensão de Agostinho sobre a perseverança, reflete então a compreensão dele sobre a eterna predestinação de Deus, das passagens de advertência dirigidas aos crentes no NT, e a sua sacramental teologia da graça e regeneração batismal. Ele sustentou que o eleito de Deus com certeza irá perseverar, mas que um eleito não poderia infalivelmente saber nesta vida – e que na verdade, a justificação e regeneração de alguém poderia ser rejeitada e perdida por meio do pecado e incredulidade. O entendimento de Agostinho estabeleceu parâmetros para Aquino, para o Concílio de Trento e para a tradição Católico Romana até os dias atuais.

 

 

  1. TOMÁS DE AQUINO

Na Suma Teológica Tomás de Aquino discute a doutrina da perseverança em vários pontos, uma vez sob o título de A Necessidade da Graça e novamente em Virtudes e Vícios. [9] Ele baseia-se no pensamento de Agostinho e tenta integrar isso com as ideias da Ética a Nicômano de Aristóteles e do seu próprio conhecimento filosófico a respeito da liberdade do arbítrio humano.

Aquino distingue três sentidos da palavra “perseverança”. No primeiro caso se refere a uma disposição ou hábito da mente por meio do qual “diante das provas que lhe assaltam, um homem permanece firmemente apegado à virtude.” [10] O segundo sentido, também de natureza ética, centra-se na intencionalidade do agente moral: perseverança é a inclinação pela qual “um homem tem o propósito de perseverar no bem até o fim.” [11] Em um terceiro e mais estritamente sentido teológico, perseverança é “ a continuação no bem até o fim da vida” – que é, “perseverança final.” [12] Como Agostinho, Aquino acredita que aquele que foi justificado pela graça permanece continuamente carente da graça de Deus, uma vez que o justificado pode desviar-se e por fim se perder. “A muitos se dá a graça aos quais não se concede nela perseverar.”[13]

O ensino de Tomás sobre a perseverança reflete a compreensão dele do arbítrio humano. O livre arbítrio por sua própria natureza é mutável, e esta mutabilidade não é removida pela graça. Consequentemente, na vida presente não é pelo poder da vontade humana, considerando-a em si mesma, apesar de “reparada pela graça, para permanecer imutavelmente no bem.” [14] Embora esteja no poder da vontade escolher o bem, “com frequencia está em nosso poder escolher, porém não realizar.” [15] Aquino parece aqui estar dizendo que boas intenções não garantem bons resultados. Não obstante, com a assistência da divina graça é possível para o justificado continuar a desejar o bem e a perseverar até o fim. [16]

 

 

III. MARTINHO LUTERO

O entendimento de Lutero sobre a perseverança claramente ostenta marcas da tradição Católico Romana, porém desta difere no ponto crucial a respeito da certeza do crente sobre a experiência da graça. No contexto de uma Igreja medieval tardia, cujas práticas e teologia mitigaram contra tal certeza, Lutero está horrorizado que o papa “tenha banido completamente a certeza e segurança sobre a graça divina.” [17] A principal tarefa do pregador é fazer os ouvintes seguros da salvação deles. “Se você deseja pregar a uma pessoa de uma maneira confortadora,” apelou Lutero em um sermão em Mateus 18:21-22, “então faça isso de forma que aquele que lhe ouve esteja certo que ele está sob o favor de Deus, ou fique calado.” [18] Pregadores que fazem com que seus ouvintes duvidem “não servem para nada.” Assegurar que alguém está presentemente em um estado de graça é fundamental para a vida Cristã. “Devo dizer”, declarou o grande reformador, “Eu sei que tenho um Deus gracioso e que minhas obras, realizadas nessa fé e de acordo com esta Palavra, são bons frutos e estão agradando a Ele.” [19]

Um sermão que assegure ao crente sobre como ele permanece com Deus é verdadeiro e apresenta a pura palavra de Cristo. Um sermão que falha em fazer isso é “uma mentira e doutrina do diabo,” e tais pregadores devem também ser o “confessor do diabo” e um “pregador no abismo do inferno.” Lutero não poupava palavras nessa questão.

Como Agostinho, Lutero acreditava que a regeneração ocorria pelas águas do batismo. “Mas,” observou o Reformador “não conservamos todos nós o nosso batismo. Muitos afastam-se de Cristo e tornam-se falsos Cristãos.” [21] Em seu comentário de 2 Pedro 2:22 ele escreve o seguinte sobre os apóstatas na Igreja: Por meio do batismo essas pessoas deitaram fora a incredulidade, tiveram o modo de viver lavado, e entraram em uma vida pura de fé e amor. Agora elas e suas próprias obras caíram na incredulidade, e elas se sujam novamente na imundície.” [22]

Alguém que tenha experimentado a justificação pela graça de Deus, por meio da fé, pode perder tal justificação mediante incredulidade ou falsa confiança nas obras. “Na verdade, mesmo o homem justo,” escreve Lutero em seu comentário de Gálatas 5:4, “se ele julga ser justificado por aquelas obras, perde a retidão que possui e cai da graça pela qual ele tinha sido justificado, uma vez que ele foi removido de uma terra boa para outra que é estéril.” [23]

Martinho Lutero compartilhou com a Igreja Católica Romana do seu tempo a crença de que a graça da regeneração batismal e a justificação podem ser perdidas. Nessa questão ele estava de acordo com Agostinho e Aquino. Onde ele divergia era na matéria da segurança, sendo mais confiante que a tradição Católica de sua época, podendo o crente desfrutar imensa certeza do seu presente estado da graça. Se o crente, agora em um estado de graça, pode permanecer na graça até o fim, era para Lutero uma questão em aberto. Por um lado, no que se refere a Deus, Lutero acreditava que o Pai Celestial deseja a eterna salvação do crente em Cristo. Todavia, da parte do crente é possível a este desviar-se da graça de Deus e se perder, mesmo depois da peregrinação ter sido iniciada. Consequentemente, o crente deve sempre ter cuidado para não cair. [24]

Essa mesma tensão sobre o assunto da perseverança final – “seguro em Cristo, inseguro em si próprio” – também se reflete nas confissões de Lutero do século dezesseis. De um lado, o artigo 12 da Confissão de Augsburg de 1530 condena o ensino anabatista de uma vez justificado, o crente não pode perder o Espírito de Deus. [25] Do ponto de vista Luterano, a apostasia final é uma possibilidade genuína para o crente batizado e justificado. Por outro lado, enquanto o teor do decreto eterno de Deus para a eleição serem conhecidas infalíveis somente para Deus, o crente, concentrando-se em Jesus Cristo como pregado no evangelho e apresentado pelas promessas da Escrituras, pode encontrar “doce consolação” nesta “mais salutar doutrina” da predestinação, de acordo com a Fórmula da Concórdia de 1584. Por meio da presente e viva fé no Cristo do evangelho “estamos certos de que por mera graça, sem nenhum mérito de nossa parte, somos escolhidos em Cristo para a vida eterna, e que ninguém pode nos tomar de suas mãos.” [26] É um paradoxo, então, o entendimento de Lutero sobre a perseverança final. Enquanto a matéria é teoricamente incerta, para um crente ela pode vir a ser existencialmente certa, desde que o crente mantenha fé inabalável nas promessas do evangelho, e assim cresça na confiança de que ele tem sido na verdade incluído na graciosa eleição de Deus para a salvação.

 

 

  1. JOÃO CALVINO

Assim como Agostinho, Aquino e Lutero, Calvino embasou a compreensão da perseverança final na doutrina da eleição. A respeito do dom de perseverar, Calvino escreve, não existe nenhuma dúvida que Deus “aplica essa noção a todos os eleitos.” [27] De acordo com Calvino, quando Cristo declara que “toda planta, que meu Pai Celestial não plantou, será arrancada[Mateus 15:13], ele inversamente implica que aqueles radicados em Deus nunca podem ser afastados da salvação.” [28] Este comentário reflete uma distinção entre a Igreja visível e a invisível. Enquanto falsos confessores na Igreja visível podem ser desenraizados, o eleito da Igreja invisível de Deus permanecerá até o fim.

Como Lutero, Calvino acredita que o Cristão pode gozar da certeza moral de seu presente estado de graça. Calvino, entretanto, tem maior confiança que Lutero e da tradição Católica antes dele, que o crente também pode ter certeza da sua eleição e perseverança final. Quando o pai da Igreja, Gregório o Grande, por exemplo, “ensina que somos cônscios somente de nossa vocação, mas inseguros de nossa eleição, ele está seriamente e perigosamente em erro.”[29] O erro de Gregório foi fazer a eleição depender dos méritos das obras, ao invés de transferir a segurança do crente à uma confiança no Deus de bondade. [30]

Calvino também divergia de Lutero em sua compreensão da regeneração. De acordo com Calvino, uma vez que o Espírito leva uma pessoa a regeneração, essa realidade não pode ser perdida. Essa opinião é aparente no comentário de Calvino em 1 João 3:9 (“Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus”). Calvino argumenta que o apóstolo João “plenamente declara que o Espírito prossegue sua graça em nós até o final, assim essa perseverança inflexível é acrescentada à novidade de vida.” [31] Pode o temor e amor de Deus ser extinto no verdadeiramente regenerado? Não, porque “a semente, comunicada quando Deus regenera seu eleito, sendo incorruptível, retém sua virtude perpetuamente.”[32] A “semente” é a presença da nova vida de Deus no crente. Enquanto a regeneração é irreversível e guia à perseverança final, na Igreja visível não é humanamente possível infalivelmente distinguir o verdadeiramente regenerado daqueles que não são. Mesmo o réprobo, escreve Calvino em seu comentário de Hebreus 6;4, pode “gozar algum sabor da sua graça.” O Espírito pode produzir algum despertar inicial “mesmo no réprobo, o qual depois desaparece, tanto porque não enraíza suficientemente profunda, ou porque murcha, sendo sufocado.”[33] Uma pessoa pode experimentar sentimentos de remorso pelo pecado, fazer uma pública confissão de fé, e ainda não ser verdadeiramente regenerada, de acordo com Calvino. Tal fé temporária não é para ser confundida com a genuína fé salvadora que permanece para vida eterna.

Embora Calvino acredite que a regeneração é irreversível e que o crente pode ter segurança de sua própria eleição e perseverança final, ele não conclui que o Cristão tem motivo para complacência espiritual. Perseverar na graça de Deus requer, do lado humano, “rigoroso e ardoroso esforço.”[34] Da nossa perspectiva humana as circunstâncias Cristãs são muito incertas, e o crente às vezes pode sentir que essa vida “está por um fio, e é contemplada por milhares de mortes.” [35] O crente precisa continuamente alimentar sua alma na pregação da Palavra e crescer na fé por todo o curso da vida.[36] Visto que é fácil para o crente afastar-se por um tempo da graça de Deus, há constante necessidade de “empenho e vigilância, se desejamos perseverar na graça de Deus.”[37]

Calvino então harmoniza suas certezas teológicas com admoestações pastorais. A nível pastoral, a posição de Calvino não difere grandemente daquela de Lutero ou da tradição Católica inicial. O crente deve continuamente exercer a fé e a obediência para fazer “garantidas sua vocação e eleição.”

 

 

  1. CONCÍLIO DE TRENTO

A réplica definitiva da Igreja Católica Romana aos ensinos dos Reformados sobre a doutrina da graça foi formulada no Concílio de Trento. Antes, em Junho de 1520, o Papa Leão X respondeu de forma preliminar, na bula Exsurge Domine, as quarenta e uma proposições de Lutero com respeito ao livre arbítrio, pecado original, penitências, confissão e outros assuntos. A sexta sessão do Concílio de Trento, que durou de 21 de Junho de 1546 até 13 de Janeiro de 1547, foi uma das mais importantes e abordou as questões sobre a graça, justificação e perseverança. No capítulo 12 afirma-se que nenhum crente deve presumir ter conhecimento seguro sobre sua própria predestinação: “Ninguém, enquanto estiver nesta vida mortal, deve ser tão presunçoso de estar convencido do profundo mistério da predestinação divina, que saiba com certeza e seguramente que ele está definitivamente entre os predestinados.” [38] Na verdade é impossível, à parte de uma revelação especial, saber quem Deus escolheu para a salvação.[39]

Sendo esse o caso, então segue-se que ninguém pode saber com certeza sobre a perseverança final. “Ninguém se assegure desse dom com uma certeza absoluta”, menciona o capítulo 13, “posto que todos devem colocar sua firmíssima esperança no auxílio de Deus” [40]

Essas posições são reafirmadas no “Cânones sobre a Justificação.” De acordo com o cânon 15: “Se alguém disser que um homem nascido de novo e justificado está certamente no conjunto dos predestinados, seja anátema.”[41] Da mesma forma no cânon 16 é declarado: “Se alguém disser que tem absoluta e infalível certeza, que seguramente possuirá o grande dom da perseverança final, sem ter aprendido isso por revelação especial, seja anátema.”[42]

Embora ocasionado por novas circunstâncias históricas – os ensinos de Lutero e Calvino – as declarações de Trento não são essencialmente novas, mas são reafirmações das posições de Agostinho e Aquino. Trento tenta refutar o que considera a confiança presunçosa dos Reformadores Protestantes, enquanto não nega uma esperança razoável ao crente fiel. Cautela pastoral é necessária, já que o crente encara uma grande oposição espiritual em toda a sua peregrinação terrena. “Sabendo que eles são renascidos na esperança da glória (1Pedro 1:3), e não à glória em si mesma, eles devem temer a batalha que eles devem travar com a carne, o mundo e o diabo.”[43]

Conforme compreendido pelos teólogos Católicos posteriores, o ensino de Trento pressupõe que a perseverança final não se apoia nem na vontade humana somente e nem na graça de Deus somente, mas na combinação de ambas – ou seja, “A graça Divina ajuda a vontade humana e a vontade humana coopera com a graça Divina.”[44] Ainda que o crente não possa infalivelmente saber da sua perseverança final, seria errado concluir que nenhum esforço pode ser feito para este fim. A perseverança final vem por meio do poder permanente da oração, como Afonso de Ligório, Francisco de Assis e Catarina de Gênova enfatizaram de diversas formas. A Escritura assegura que Deus infalivelmente ouve as orações que busca o verdadeiro bem-estar do crente justificado.[45]

 

 

  1. OS CREDOS ANGLICANOS

Os Trinta e Nove Artigos da Igreja da Inglaterra foram promulgados em 1563 e estão embasados nos vários debates do credo que ocorreram entre os Reformadores Ingleses durante o reinado de Henrique VIII. Eles representam uma revisão dos Quarenta e Um Artigos de 1553, sendo em grande parte obra do Arcebispo Thomas Cranmer. [46]

O Artigo 17, “Predestinação e Eleição” declara que aqueles a quem Deus escolheu em Cristo para eterna salvação não são chamados justificados, adotados e santificados, mas “e enfim chegam, pela misericórdia de Deus, à felicidade eterna.” Como Agostinho, Aquino, Lutero e Calvino, este Artigo ensina que o eleito de Deus irá finalmente perseverar à eterna salvação. Quanto à pergunta, entretanto, do grau de certeza que o crente pode gozar nesta vida a respeito de sua eleição, os Trinta e Nove Artigos são cautelosos, senão ambíguos. O mesmo Artigo 17 declara que “a piedosa consideração da… é cheia de um doce, suave, inexplicável conforto para as pessoas piedosas” e ajuda a “confirmar a sua fé na salvação eterna que hão de gozar por meio de Cristo”[47] Isto parece ensinar que um crente pode ter um significativo grau de certeza a respeito da sua eleição e perseverança, e ainda ficar com a pouca certeza considerada por Calvino e depois pelos doutores de Westminster e pelo Sínodo de Dort. Essa cautela na expressão teológica reflete o caráter e propósito dos Trinta e Nove Artigos, que foram designados para prover uma base mínima de credo para a Igreja nacional que poderia acomodar tanto as tradições Católicas como Protestantes.[48]

Os Artigos Lambeth de 1595 são um apêndice Calvinista aos Trinta e Nove Artigos. Eles foram endossados por um número de prelados Ingleses que se reuniram no palácio Lambeth em Londres, em 20 de Novembro de 1595, mas não oficialmente sancionado pela rainha Elizabeth. [49] Eles mais tarde foram incorporados nos Artigos da Religião Irlandesa. O Artigo 5 declara que uma verdadeira fé justificadora nunca é totalmente extinguida. É declarado ainda, no Artigo 6, que o crente verdadeiramente fiel “está certo, pela plena certeza da fé da remissão dos pecados e da sua salvação eterna por meio de Cristo.”[50] Esta declaração representa uma explícita posição Calvinista no assunto da segurança e perseverança final, uma questão deixada mais ambígua nos Trinta e Nove Artigos.

Os Artigos da Religião Irlandesa, provavelmente compostos pelo Arcebispo James Ussher, foram adaptados pela Igreja Episcopal Irlandesa em 1615. Eles refletem o então Calvinismo prevalecente daquela igreja e forma uma ligação histórica importante entre os Trinta e Nove Artigos e a Confissão de Westminster como a fonte principal desta última.[51] Aqueles que foram predestinados para a vida, pela misericórdia de Deus “alcançam a felicidade eterna” de acordo com o Artigo 15. O artigo 37 afirma que um verdadeiro crente “pode ter certeza, pela certeza da fé, do perdão dos seus pecados, e da sua salvação eterna por Cristo.”[52] A semelhança dessa declaração com os Artigos Lambeth, que a precedem e da Confissão de Westminster que os seguem, é evidente.

 

 

VII. JACÓ ARMÍNIO

Jacó Armínio (1560-1609), do seu nome deriva a tradição teológica Arminiana, estudou com Beza em Genebra, serviu como ministro em Amsterdã e foi professor de teologia na Universidade de Leyden em 1603. Ao defender a posição Calvinista contra os escritos de Dirik zoon Koornheert ele se convenceu dos argumentos do oponente e se tornou um convertido às doutrinas da graça universal e do livre arbítrio.[53] A subsequente controvérsia se espalhou por toda a Holanda e por fim levou a convocação do Sínodo de Dort em 1618, nove anos após a morte de Armínio.

Armínio declarou que muitas das suas colocações foram mal compreendidas pelos seus oponentes. Na questão da perseverança dos santos ele escreveu que verdadeiros crentes “possuem suficiente poderes para lutar contra Satanás, o pecado, o mundo e suas próprias carnes” de forma que aqueles que clamam pela ajuda de Cristo são preservados de cair. [54] Satanás não é poderoso o suficiente para remover o crente fiel das mãos de Cristo. Ele afirma que ele “nunca ensinou que um verdadeiro crente pode totalmente ou finalmente aparta-se da fé e perecer,” e ainda, que ele concorda em que existem textos Bíblicos que parecem indicar a possibilidade de um crente negligente afastar-se e se perder. Ele acreditava que esse era um assunto para futuras investigações. [55] Armínio então, afirmou que enquanto ele não explicitamente negou a posição Calvinista sobre a perseverança, ele sentia a possibilidade que o contrário poderia ser verdade, embora ele não estivesse ainda preparado para expressar que isso fosse realmente verdade. Após a morte de Armínio, a liderança do movimento passou para as mãos de Simão Episcópio (1583-1644), seu sucessor na cadeira de teologia em Leyden e Janus Uytenbogaert (1557-1644), um pregador em Haia.

Em 1610, o grupo Arminiano sob a liderança de Uytenbogaert, formalizou a posição deles nos Cinco Artigos, também conhecido como Remostrância. O Artigo Quinto, que trata da perseverança, declara que é possível pelo poder de Deus um crente perseverar e que não há nenhuma forma de apartar-se apesar do poder do mundo, da carne e do diabo. “Mas se”, eles acrescentam, é possível crentes verdadeiros abandonar a vida em Cristo e tornarem-se desprovidos da graça “deve ser mais particularmente determinado pela Santa Escritura, antes que nós mesmos possamos ensinar isso com toda persuasão de nossas mentes.” [56]  O sucessor imediato de Armínio assim manteve a ambivalência de seu líder nessa questão. Em sua compreensão a respeito da predestinação, Armínio concluiu que o decreto de Deus para indivíduos em particular para salvação depende da “presciência de Deus, pela qual ele soube desde a eternidade quem… iria crer, e em consequência da graça obtida depois, iria perseverar.”[57]

Nessa compreensão condicional da predestinação, o decreto de Deus é baseado na presciência divina dos atos contingentes da vontade humana. A graça de Deus é necessária para a salvação, mas sozinha não é suficiente, à parte da cooperação da vontade humana. Dado o acesso à graça divina, a vontade humana torna-se o fator decisivo que distingue aqueles que aceitam o evangelho daqueles que o rejeitam. Se o início da vida em Cristo é contingente da vontade humana, e se sua continuação é da mesma forma contingente, parece logicamente consistente que a perseverança final é da mesma forma contingente – e que apartar-se deve ser uma genuína possibilidade. Esta implicação do entendimento condicional da predestinação, implícita em Armínio, foi feita explícita mais tarde na tradição Arminiana.

 

 

VIII. O SÍNODO DE DORT

O Sínodo de Dort (Dordrecht) se reuniu em 1618-1619 e marcou a vitória da estrita ortodoxia Calvinista nas igrejas Reformadas da Holanda.[58] O sínodo tinha um certo caráter internacional, sendo composto não somente por delegados da Holanda, mas também por vinte e sete delegados de outros países. Sob o “Quinto Capítulo da Doutrina” o sínodo aborda a questão da perseverança dos santos e afirma, contra o ensino Arminiano, que Deus “não retira completamente o Seu Espírito Santo dos que lhe pertencem, mesmo na sua grave queda”, “Tampouco Ele permite que percam o estado da adoção e justificação. [59] A perseverança final dos santos está fundada no “propósito imutável da eleição” de Deus. [60] Nesse ponto o sínodo compartilha o fundamento comum com Agostinho e Aquino. O sínodo prossegue dizendo, entretanto, que a perseverança final é também fundamentada na natureza da regeneração. Mesmo quando os crentes cometem pecado sério, Deus “preserva neles Sua semente incorruptível de regeneração” e previne-os de perecer ou serem totalmente perdidos. [61] 1 João 3:9 e 1 Pedro 1:23 são citados como suporte. Essa compreensão Calvinista da natureza da regeneração, como um estado permanente da alma, difere do entendimento Católico Romano e do Luterano.  O sínodo afirma que os crentes obtém segurança da perseverança final “de acordo com a medida da sua fé.” [62} Esta “confortável segurança” não exclui todas as dúvidas e tentações e não vem à parte das Escrituras, mas pelo testemunho do Espírito Santo às promessas de Deus. [63] Em uma posterior nota pastoral, o sínodo também afirma que os santos na verdade perseveram pela lealdade ao uso dos meios da graça de Deus: o ouvir e leitura da Palavra de Deus, as exortações e advertências nelas contidas e o uso adequado dos sacramentos.

 

  1. A ASSEMBLEIA DE WESTMINSTER

A Confissão de Westminster de 1646 foi escrita pela assembleia que se reuniu na Abadia de Westminster durante a Guerra Civil Inglesa. A confissão e catecismo produzidos por essa assembleia tornou-se o credo padrão dominante das igrejas Presbiterianas no mundo de fala inglesa e também influenciou várias denominações Batistas e Congregacionais na Inglaterra e América. [65]

O Capítulo 17 da Confissão, “Sobre a Perseverança dos Santos” afirma: “Os que Deus aceitou em seu Amado, os que ele chamou eficazmente e santificou pelo seu Espírito, não podem nem totalmente e nem finalmente decair do estado da graça, mas com certeza assim deverão perseverar até o fim e serão eternamente salvos.” [66] A perseverança final do crente não depende do livre arbítrio, mas do decreto imutável da eleição de Deus, o amor imutável de Deus, a eficácia da intercessão de Cristo, e do permanente poder do Espírito de Deus e da semente da regeneração. [67]

No capítulo seguinte, “Da Certeza da Graça e da Salvação”, a Confissão prossegue dizendo que os verdadeiros crentes “podem nesta vida estar seguros que estão em estado de graça.” [68] A resposta a pergunta 80 no Catecismo Maior é nada mais do que explícita em dizer que os crentes podem estar “infalívelmente certos de que eles estão em um estado de graça e deverão assim perseverar até a salvação.” [69] A certeza do crente quanto ao estado da graça afirmada por Lutero é estendida à certeza da perseverança final.

Um século após a Reforma, os doutores de Westminster deram as colocações de Calvino, um grau de precisão e abrangência que tem permanecido até hoje como um marco da tradição conservadora Reformada.

 

 

  1. JOHN WESLEY

No começo de sua vida, em 1743, o grande Reformador Metodista disse que estava “inclinado a crer que existe um estado viável nesta vida do qual um homem não pode finalmente cair.”  [70] Wesley renunciou dessa opinião anos mais tarde.

No tratado “Perseverança Calmamente Considerada”, Wesley observou que os crentes devem inferir de suas próprias experiências da graça que é impossível finalmente decair. [71] Apesar disso, qualquer que seja a segurança que Deus possa dar às almas “Não encontro nenhuma promessa na Sagrada Escritura, ‘que nenhum que tenha crido poderá cair’” [72] A Escritura, e não experiências pessoais ou inferências delas extraídas, declara Wesley, deve ser decisiva na questão. [73]

Em seu tratado “Sérios Pensamentos sobre a Perseverança dos Santos”, Wesley consente que o apóstolo Paulo – e muitos crentes hoje – eram completamente persuadidos a respeito da perseverança final deles. [74] Todavia, tal certeza não prova que todo crente irá perseverar ou que todos os crentes desfrutam tal certeza. [75] Baseado em sua leitura de Hebreus 6:4-6; 10-26-29; 2 Pedro 2:20-21 e outros textos do NT, Wesley está persuadido que um verdadeiro crente pode naufragar de sua fé e perecer eternamente. [76] Em seu breve tratado “O que é um Arminiano?”, Wesley aponta para a conexão integral entre uma dada compreensão da natureza da predestinação e a natureza da perseverança. As opiniões Calvinistas da graça irresistível e perseverança final “são consequências naturais… do decreto incondicional,” ele observa. “Pois se Deus eternamente e absolutamente decretou salvar tais e tais pessoas, segue-se, que ambas não podem resistir à essa graça salvadora… e que elas não podem finalmente decair da graça que eles não podem resistir.” [77]

Ao rejeitar a predestinação incondicional, Wesley coerentemente rejeitou a consequência da perseverança infalível. Como a predestinação era compreendida como sendo subordinada à presciência da resposta positiva da vontade humana ao evangelho, então Wesley acreditava que a perseverança final era subordinada à continua cooperação da vontade do crente com a graça justificadora e santificadora de Deus.

 

  1. A CONFISSÃO BATISTA NA AMÉRICA

Os credos Batistas na América refletem tanto as influências Calvinistas e Arminianas. A Confissão de New Hampshire, comissionada pela Convenção Batista de New Hampshire e publicada em 1833, reflete o Calvinismo moderado da época. O capítulo 11 “Sobre a Perseverança dos Santos”, declara que “somente crentes verdadeiros perseveram até o fim… eles são guardados pelo poder de Deus através da fé até a salvação.” [78] Nenhuma menção é feita sobre alguma conexão entre predestinação e perseverança, e o artigo silencia na questão da certeza da perseverança final.

Subsequente ao reavivamento deflagrado pelas pregações de George Whitefield, um grupo Batista Arminiano do “Livre Arbítrio” surgiu na Nova Inglaterra e mais tarde se organizou como denominação. Seu credo foi publicado em 1834 com o título “Um Tratado da Fé e Livre Arbítrio dos Batistas.” [79] De acordo com o capítulo 11 “Como os regenerados são colocados em um estado de provação durante esta vida, a futura obediência e salvação final deles não são determinadas e nem garantidas.” [80] Esta declaração claramente pressupõe o entendimento Arminiano da eleição condicional e afirma a possibilidade de um crente verdadeiramente regenerado decair e finalmente se perder. Em todo caso, é privilégio do crente estar “firmemente na verdade, crescer na graça, perseverar em santidade, e certificar-se de sua eleição.” [81]

O “Resumo dos Princípios” foram adotados pelo Seminário Batista do Sul em Louisville, Kentucky, em 1859 e representa uma interpretação da Batista do Sul da Confissão de Westminster. A orientação Calvinista é clara no capítulo 13, onde se afirma que “Os que Deus aceitou em seu Amado, os que ele chamou eficazmente e santificou pelo seu Espírito, não podem nem totalmente e nem finalmente decair do estado da graça, mas com certeza assim deverão perseverar até o fim.” [82]

Em 1925, no meio das controvérsias fundamentalista-modernistas, a Convenção Batista do Sul emitiu sua “Declaração e Mensagem de Fé Batista.” O capítulo 11 sobre a perseverança declara: “Todos crentes verdadeiros subsistem até o fim… eles são guardados pelo poder de Deus através da fé até a salvação.”[83] Essa linguagem é remanescente da Confissão de New Hampshire de 1833 e reflete um Calvinismo moderado pelas influências Arminianas nas igrejas Batista do Sul.

 

XII. A INTERPETAÇÃO DISPENSACIONALISTA

Os intérpretes dispensacionalistas refletem a opinião Calvinista na questão da perseverança e segurança eterna. Lewis Sperry Chafer dedicou dois capítulos ao tema em um de seus livros. Ele argumentou que certas passagens tal como Mateus 24:13, cuidam ensinar a possibilidade da apostasia final do crente, que foram “aplicadas erroneamente por dispensacionalistas” e aplicadas somente para Israel, e não para a Igreja. [84] Semelhantemente, uma passagem de advertência tal como Hebreus 6:4-6, é direcionada para os Hebreus e não descreve a experiência verdadeira de salvação de um Cristão. [85] Chafer recorre aos eternos propósitos de Deus, a expiação substitutiva, o selo do Espírito Santo, a natureza incondicional da nova aliança, a intercessão sacerdotal do Cristo ressurreto, o caráter eterno da salvação, e a perfeição celestial do crente para defender a certeza da perseverança final de um verdadeiro crente. [86]

O ponto de vista dispensacionalista recebeu ampla disseminação nas notas da Bíblia de Referência de Scofield. Na edição mais recente, as notas em Hebreus 6:4-6 declaram que o v.4 comumente proferido “e feitos participantes do Espírito Santo,” deveria ser traduzido “de acordo com o Espírito Santo.” De acordo com os editores as várias experiências descritas nos vv. 4-6 podem “acompanhar a salvação, mas nem sempre elas resultam na salvação.” A certeza eterna do Cristão é considerada como ensinada em passagens como João 3:15-16, 36; 10:27-30; Romanos 8:35,37-39; Efésios 1;12-14; Filipenses 1:6; Hebreus 10:12-14; 1 Pedro 1:3-5. [87] As advertências em Hebreus 6:4-6 são dirigidas aos que tendo sido instruídos e até movidos pelo Espírito Santo, nunca se comprometeram verdadeiramente com Cristo.

 

 

XIII. A PERSEVERANÇA NOS RECENTES ESTUDOS

Da perspectiva Calvinista a monografia mais detalhada nos anos recentes foi escrita por G.C. Berkouwer que está preocupado em destacar as dimensões “existenciais” da doutrina de forma que a crença na perseverança não venha se tornar uma “gnose teológica” ou mera conclusão deduzida de um conceito da predestinação divina. Perseverança, destaca Berkouwer, “é percebida na frágil e comprometida vida dos crentes somente pela oração e exortação, por meio da pregação e sacramentos.” [89] Separar doutrina e perseverança da vida concreta de fé, iria petrificá-la em um “mero jogo de conceitos esvaziados de vida.” [90] Este é o modo de Berkouwer declarar, segundo a perspectiva dele, que no plano de Deus, certas finalidades (a perseverança dos eleitos) são ordenadas apenas em conjunto com significados específicos: a fé e a obediência dos crentes. A ênfase “existencial” tem considerável unidade com a insistência Luterana na presente fé viva como chave para a certeza do crente.

I.Howard Marshall escreveu uma obra importante a respeito da perspectiva Wesleyana. O trabalho de Marshall examina o AT e o contexto Judaico e em sete capítulos discute passagens relevantes do Novo Testamento. Ele conclui que “enquanto seja possível para um Cristão decair da perseverança após uma genuína experiência de salvação… a ênfase principal do Novo Testamento está na confiança e certeza da salvação final.” [91] O NT, ele diz, não conhece a “lógica rígida do Calvinismo” nem a “casualidade do Arminianismo”, mas “ensina-nos a colocar a nossa confiança em Deus.” [92]

Robert Shank dispôs o mais abrangente recente trabalho sobre o tema na perspectiva Arminiana. Apostasia, ele argumenta, é uma genuína possibilidade para todo crente, e as passagens do NT em sua apreciação ensinam que a segurança do crente em Cristo é condicional ao invés de incondicional. João 10:28, por exemplo, deveria ser traduzido “Eu estou dando a eles vida eterna.” A concessão da vida eterna por Cristo é subordinada ao “habitual ouvir e seguir deles.” [93] Hebreus 6:4-6 descreve a real, não hipotética, apostasia. [94] Com respeito a Filipenses 1:6, outro texto favorito sobre “certeza”, Shank comenta que foi “no fundamento da firmeza deles” que Paulo sentiu que a confiança dele era plenamente justificada. [95] A soma dos ensinos do NT, de acordo com Shank, é que “a vida eterna em Cristo é nossa presente possessão somente na condição de um viver presente em fé.” [96]

Em um recente trabalho, Dale Moody aborda a questão da “Salvação e Apostasia.” Baseado em seus estudos do NT Moody conclui que “crentes superficiais não são os únicos tipos” que decaem. [97] Esta conclusão está em discordância com a posição oficial da Batista do Sul, mas é tempo, de acordo com Moody, “de colocar os puros ensinos da Escritura acima de todas as tradições humanas.” [98]

 

XIV. CONCLUSÕES

Esta revisão da hsitória da doutrina da perseverança mostra que aspectos teológicos críticos no debate são

 

  • a natureza da eleição
  • o grau de certeza que um crente pode ter de sua eleição
  • a natureza da regeneração como permanente ou um estado potencialmente impermanente.

Calvino, Armínio e Wesley concordaram que se a eleição for incondicional, então a perseverança logicamente seguiria por via de regra. Agostinho e Aquino afirmaram a eleição incondicional, mas ensinaram que os crentes não desfrutam de certeza infalível de sua eleição e consequentemente de sua perseverança final. Lutero acreditava que o Cristão poderia ter certeza concernente ao presente estado da graça, mas não concernente à perseverança final. Como a tradição Católico Romana que o precedeu, e a tradição Wesleyana que o sucedeu, Lutero não via a regeneração como inextricavelmente ligada a salvação final. A tradição Calvinista entendeu que a eleição era incondicional, regeneração permanente e a certeza da salvação como uma genuína possibilidade para o crente.

Novos avanços no estudo desta doutrina exigem estudos exegéticos contínuo dos textos Bíblicos sobre eleição, regeneração, e advertências da apostasia, assim como novas análises teológicas e epistemológicas dos fundamentos e extensão da certeza no NT.

 

Notas

 

[1] Citações do tratado são das Obras de Aurelius Augustine, vol 15, Anti-Pelagian Works (ed. M. Dods, T e T Clark, 1876). O título latino é De Dono Perseverantiae, “Sobre o Dom da Perseverança”.

[2] Ibid. 172 (cap. 1). [3] Ibid. 187 (cap. 21). [4] Ibid. 188 (cap. 21). As referências são de Rom 8:28; Ef 1: 4.

[5] Ibid. 200-201 (cap.33). Agostinho cita Rom 8:30; Rm 11:29 em relação a predestinação dos eleitos por parte de Deus.

[6] Ibid. 172 (cap. 1). [7] Ibid. 201 (cap. 33). A referência é a 1 Co 10:12.

[8] Ibid. 188 (cap. 21). Para Agostinho, a justificação e a regeneração (através do batismo) são graças espirituais que podem ser rejeitadas e perdidas.

[9] As citações são da tradução de Summa Theologica da província dominicana inglesa (NY: Benziger, 1947).

[10] Suma Teologica I-II, Q. 109, art. 10. [11] Ibid. [12] Ibid. [13] Ibid.

[14] Suma Teologica II-II, Q. 137, Art. 4. [15] Ibid. [16] Ibid.

[17] Citado em J. Kostlin, The Theology of Luther (Lutheran Publication Society, 1897), 2: 462.

[18] Citado em What Luther Says (compilado por E. Plass, Concordia, 1959), 3: 1116.

[19] Obras de Lutero (ed. J. Pelikan, Concordia, 1961), 24: 218. [20] Ibid.

[21] Citado em What Luther Says, 1: 280.

[22] Luther’s Works (ed. J. Pelikan, Concordia, 1967), 30: 190.

[23] Obras de Lutero (ed. J. Pelikan, Concordia, 1964), 27: 331.

[24] Kostlin, Theology, 2: 464.

[25] The Creeds of Christendom (ed. P. Schaff, NY: Harper, 1897), 3:14. [26] Ibid. 169-170; Cap 12, Fórmula de Concórdia.

[27] J. Calvino, Institutas da Religião Cristã 3.14.6 (ed. J. T. McNeill, Westminster, 1960), 972. [28] Ibid.

[29] Institutas 3.14.9, 975. [30] Ibid.

[31] J. Calvin, Comentários sobre as Epístolas Católicas (Eerdmans, 1948), 214. [32] Ibid.

[33] J. Calvin, Comentários sobre a Epístola aos Hebreus (Eerdmans, 1949), 138.

[34] J. Calvin, Comentário sobre o Livro dos Salmos (Eerdmans, 1949), 5: 4 (comentário sobre Sal 119: 123). [35] Ibid. 1: 143 (comentário sobre Salmos 10: 6).

[36] Calvino, Hebreus 90 (comentário sobre Heb 3:15). [37] Ibid. 324-325 (comentário sobre Heb 12:15).

[38] The Church Teaches: Documents of the Church in English Translations (Herder, 1955), 238. [39] Ibid. [40] Ibid. [41] Ibid. 244. [42] Ibidem. [43] Ibid. 238.

[44] J. F. Sollier. “Perseverance, Final”, na Enciclopédia Católica (NY: Robert Appleton, 1911), 9: 711.

[45] J. J. Connelly, “Perseverance, Final”, na Nova Enciclopédia Católica (NY: McGraw-Hill, 1967), 11: 155.

[46] Creeds of the Churches (ed. J. H. Leith, John Knox, 1973), 266. [47] Ibid. 272. [48] Ibidem. 266.

[49] Schaff, Creeds, 523. [50] Ibid. 524. [51] Ibid. 526. [52] Ibidem. 534. [53] Schaff, Creeds, 1: 510.

[54] The Writings of James Arminius (Baker, 1956), 1: 254.

[55] Ibid. Ele também observa que a doutrina da perseverança dos santos nunca foi uma doutrina universalmente aceita na Igreja (2: 502).

[56] Schaff, Creeds, 3: 548-549.

[57] Citado em M. Stuart, “The Creed of Arminius,” Biblical Repository 1 (1831), 269.

[58] R. Seeburg, Textbook of the History of Doctrines (Baker, 1977), 424.

[59] Doctrinal Standards of the Christian Reformed Church (Comitê de Publicação da Igreja Reformada Cristã, 1962), 61. [60] Ibid. [61] Ibid. [62] Ibid. 62 (artigo 9º). [63] Ibid. (Artigos 10-11). [64] Ibid. 63 (artigo 14).

[65] Leith, Creeds, 192. [66] Ibid. 212.

[67] Ibid. Parágrafo 2. A resposta à pergunta 79 no Catecismo Maior também acrescenta “sua união inseparável com Cristo” como um fundamento de perseverança; Cf. A Harmony of the Westminster Presbyterian Standards (John Knox, 1951), 104.

[68] Leith, Creeds, 212 (cap. 18).

[69] Harmony 107.

[70] Citado em W. Cunningham, Historical Theology (Banner of Truth Trust, 1960 [1862]), 1: 358.

[71] J. Wesley, The Works of John Wesley (NY: Carlton e Lamaban, 1825), 6:24. [72] Ibid. 50. [73] Ibidem. 51. [74] Ibidem. 85. [75] Ibidem. [76] Ibid. 90.

[77] Ibid. 134. Essa mesma conexão é observada por teólogos metodistas posteriores. “Se o decreto da eleição [incondicional] é verdadeiro … se a graça é irresistível em sua obra salvadora”, escreve J. Miley, “então a doutrina da perseverança final deve ser verdadeira”; Systematic Theology (NY: Eaton e Mains, 1894), 2: 269.

[78] Em Leith, Creeds, 337.

[79] W. J. McGlothlin, Baptist Confessions of Faith (Sociedade de Publicação Batista Americana, 1911), 308. [80] Ibid. 321. [81] Ibidem. 321-322.

[82] Em Leith, Creeds, 342. [83] Ibid. 342.

[84] L. S. Chafer, Salvation (NY: Charles C. Cook, 1917), 99. [85] Ibid. 105. [86] Ibid. 116-137.

[87] A New Scofield Reference Bible (ed. C. I. Scofield, NY: Oxford University, 1967), 1315. [88] Ibid.

[89] G. C. Berkouwer, Faith and Perseverance (Eerdmans, 1958), 234. [90] Ibid. 237.

[91] I. H. Marshall, Kept by the Power of God: A Study of Perseverance and Falling Away (Londres: Epworth, 1969), 207.

[92] Ibid. Calvinistas como Berkouwer questionariam a terminologia da “lógica rígida”, como muitos na tradição arminiana se opunham ao epíteto de “casualidade”.

[93] R. Shank, Vida no Filho: Um Estudo da Doutrina da Perseverança (Westcott, 1960), 57. [94] Ibid. 176. [95] Ibid. 107. [96] Ibid. 63.

[97] D. Moody, The Word of Truth: A Summary of Christian Doctrine Based on Biblical Revelation (Eerdmans), 349. [98] Ibid. 365.

J. Davis é professor de teologia sistemática e ética cristã no Seminário Teológico Gordon-Conwell em South Hamilton, MA

 

 

 

 

 

 

Abraham Kuyper, África do Sul e o Apartheid

Abraham Kuyper, África do Sul e o Apartheid

 

Por George Harinck

 

George Harinck, diretor do Centro de Arquivos e Documentação das Igrejas Reformadas, Kampen e membro do equipe do Centro de Documentação Histórica do Protestantismo Holandês na Free University of Amsterdam, é autor de numerosas publicações sobre a história do protestantismo holandês e suas relações internacionais. Ele entregou estas observações na cerimônia de abertura do Instituto Abraham Kuyper de Teologia Pública no Seminário Teológico de Princeton, no Nassau Inn em 1 de Fevereiro de 2002.

 

No ano passado, quando eu era um acadêmico visitante no Seminário de Princeton, fui convidado pelo meu amigo Max Stackhouse para escrever um livro sobre Abraham Kuyper (1873-1920) e o apartheid. Durante minha pesquisa eu descobri que desde 1975 o tópico de Kuyper e apartheid tem sido bem conhecido no mundo acadêmico internacional. E é de conhecimento popular no mundo de fala inglesa que Abraham Kuyper é um dos pais do apartheid. Mas na Holanda este tópico é mais desconhecido. Não é estranho?

 

Os holandeses conhecem Kuyper, é claro. Ele fundou uma das dez universidades holandesas, a segunda maior denominação reformada no país, um dos três partidos políticos mais influentes do último século, e foi seu primeiro ministro de 1901 até 1905. Os holandeses também conhecem a respeito do apartheid. Muitos kuyperianos foram ativos no movimento anti-apartheid. Justamente porque estavam relacionados com as igrejas brancas reformadas na África do Sul, e justamente porque a Free University estava ligada a Potchefstroom University, os calvinistas holandeses foram todos contrários ao apartheid. Em 1975, eles cortaram os laços com igrejas brancas e universidades brancas e começaram a apoiar as igrejas e universidades negras. Quando Alan Boesak disse isso aos sul-africanos negros “o Deus da tradição reformada era o Deus da escravidão, do medo, da perseguição e da morte,”[1] os calvinistas holandeses colocaram a culpa disso nos bôeres, não em Kuyper.

 

A ausência dos holandeses no debate internacional Kuyper-apartheid não foi notada, mas isto é um elo perdido e certamente influenciou o curso e o alcance do debate. Por exemplo, a relação entre Kuyper e a África do Sul, entre o seu calvinismo e o calvinismo dos bôeres, desempenha um papel formativo no debate. Muitas fontes sul-africanas, americanas e inglesas sobre este tópico contém alguma informação sobre o que Kuyper disse a respeito da África do Sul, mas elas nunca dizem por que e quando ele disse isso. Kuyper é simplesmente considerado um bôere com os bôeres e um calvinista com estes calvinistas. Mas na realidade ele tinha uma relação ambivalente com a África do Sul e os seus habitantes brancos, e centenas de páginas foram escritas a respeito disso em holandês.

 

O interesse de Kuyper na causa bôere tinha dois aspectos: um nacional e um calvinista. Quanto ao aspecto nacional, os bôeres eram um povo cognato. Os holandeses geralmente os negligenciavam, mas no período das guerras anglo-bôeres, de 1880 até 1900, eles mudaram sua atitude e ardentemente apoiaram os bôeres contra a Grã-Bretanha imperialista. Por que esta mudança? Por uma razão muito interessante. A Holanda era uma nação pequena que temia o seu futuro como uma nação independente na Europa.

 

A Alemanha era o poder em ascensão no leste, e a Inglaterra era a poderosa potência mundial em seu lado ocidental. Nestas condições, os bôeres funcionaram como uma âncora de esperança para os holandeses: com a oposição bôere aos britânicos na África os holandeses reconheceram sua vontade de sobreviver na Europa. Kuyper foi o cabeça deste movimento nacional pró bôere. Foram apresentadas petições ao governo britânico, e as ruas e quarteirões foram nomeados posteriormente com famosos generais bôeres. Mas a simpatia pelos bôeres desapareceu tão subitamente quanto tinha surgido. Quando os bôeres perderam a guerra em 1902, os holandeses se esqueceram deles, incluindo Kuyper.

 

Logo após 1880, Kuyper já estava desapontado com os bôeres, não tanto porque perderam uma guerra que nunca poderiam ter ganhado, mas porque eles não estavam interessados em seus ideais calvinistas. De acordo com Kuyper, um verdadeiro holandês era um verdadeiro calvinista, e nos bôeres ele pretendia encontrar um verdadeiro espécime do clássico homem holandês temente a Deus. Ele mesmo considerou que os bôeres poderiam desempenhar um papel em seu plano de restaurar e renovar a posição dos calvinistas na igreja e na sociedade. Mas para o seu desapontamento, os bôeres não estavam dispostos a pisar no palco de Kuyper. Foi por isso que ele lhes virou as costas em 1885. A sua famosa brochura sobre A Crise na África do Sul publicada em 1900, é mais anti-britânica do que pró bôere.

 

Kuyper nunca foi para a África do Sul e a sua decisão de visitar os Estados Unidos e Princeton em 1898 é mais do que acidental. Ele tinha percebido que o futuro do calvinismo não estava na África, mas na América. Ele facilmente deixou para trás a dimensão nacionalista sul-africana do seu calvinismo, pois foi o calvinismo, não o nacionalismo que o guiou. O fato de que a simpatia de Kuyper pelos bôeres foi tão séria quanto curta, veio à luz só recentemente no debate internacional sobre Kuyper e apartheid. Nos últimos anos, foram feitas distinções entre Kuyper e a interpretação sul-afrincana de Kuyper, entre o neocalvinismo de Kuyper e o calvinismo dos bôeres. Como resultado, o papel de Kuyper no debate do apartheid está diminuindo. Se os holandeses tivessem participado do debate Kuyper-apartheid, tais distinções teriam sido feitas muito antes.

 

Uma possível razão dos holandeses estarem ausentes deste debate internacional é que no século XIX e durante muito tempo no século XX, a raça não era um problema na sociedade holandesa. O impulso para o envolvimento holandês no movimento anti-apartheid não foi sua própria experiência com questões raciais, mas o fato de que os bôeres estavam relacionados a elas. O mesmo foi verdade no século XIX de Kuyper. Em suas publicações a raça não é uma categoria. Um bom exemplo disto é que a distinção que ele faz entre as pessoas brancas e de cor em suas palestras, em 1898, só apareceu na edição americana.[2] Na edição holandesa não teria sentido.

 

A raça não era um problema no pensamento de Kuyper. Mas é claro que as suas publicações pressupõem a superioridade da raça branca e da civilização ocidental. Com frequência ele menciona as pessoas africanas em um sentido negativo, por exemplo em suas palestras em Stone – e a sua audiência concordou com ele. Lamentamos o fato dele não desemaranhar, mas sim seguir o preconceito de seu tempo. Porém, a sua atitude em relação à raça não é tão monolítica que ele deve ser considerado um racista absoluto. As palestras em Stone de Kuyper  não discutem a superioridade da raça ou da civilização, mas sim a superioridade do cristianismo. Não é sempre fácil distinguir entre os dois, mas é claro que, para o Kuyper, o desenvolvimento histórico não é um processo determinado pela raça. Nem é a superioridade da raça fixa, mas pode ser perdida pelo branco e obtida pela raça amarela – como o próprio Kuyper escreveu. As pessoas negras que, de acordo com a exegese de seus dias viviam sob a maldição de Cam, poderiam receber a bênção do Senhor. Decisivo no pensamento de Kuyper sobre história e civilização não é a raça ou o desenvolvimento histórico, aspectos que estão além do nosso controle, mas o cristianismo e a responsabilidade humana de escolher a Deus.

 

De acordo com Kuyper, “o calvinismo se obrigou a encontrar sua expressão na interpretação democrática da vida; proclamar a liberdade das nações; e não descansar até que tanto politicamente quanto socialmente, todo homem, simplesmente porque é homem, deva ser reconhecido, respeitado e tratado como uma criatura criada segundo a semelhança divina.”[3] Mais tarde, os kuyperianos reconheceram as limitações históricas do escopo de Kuyper e não hesitou em acrescentar o racismo à lista de males que o calvinismo de Kuyper deve combater.

 

Eles tinham boas razões para fazê-lo, pois há evidências de que Kuyper aplicou a sua convicção calvinista de igualdade e da responsabilidade do homem, não só para a posição das mulheres ou dos pobres, mas também a posição de pessoas de cor. Em 1896, ele formulou regras para o plantio de igrejas nas Índias Orientais, onde as igrejas de Kuyper tiveram o seu principal campo missionário. Nestas regras, declarou que, de acordo com o evangelho, diferentes raças e nações tinham que viver juntos em uma igreja. Esta unidade só poderia ser quebrada em caso de diferença de linguagem ou confissão.[4]

 

Em 1901, ano em que Kuyper se tornou primeiro ministro da Holanda, ele introduziu uma importante mudança na política colonial holandesa, quando ele introduziu a assim chamada política ética. A base desta sua politica foi uma aplicação da sua visão da igualdade humana e da responsabilidade das pessoas e das raças em empregar a sua superioridade no serviço de Deus. No programa da sua administração ele descreveu a responsabilidade da nação holandesa para com os povos das Índias Orientais como proteção contra as realidades da colonização ou da exploração. A ideia subjacente é clara: a Holanda não foi autorizada a abusar da sua superioridade sobre as Índias Orientais Holandesas. Eu não nego o caráter paternalista deste ponto de vista, mas esta política marcou um grande avanço no século XIX na politica colonial holandesa da exploração. E isto mostra que Kuyper não foi guiado pela cultura do racismo de seus dias, mas pelo seu credo calvinista da igualdade humana.

 

Esta é a forma como os holandeses compreendem Abraham Kuyper. Eles certamente não têm a última pista para todas as opiniões desafiadoras e às vezes perturbadoras sobre Kuyper, mas espero ter deixado claro minha questão, que alguma voz kuyperiana holandesa pode acrescentar algo ao debate e pesquisa internacional sobre Kuyper. Sou grato ao Seminário de Princeton por ter demonstrado um interesse real na sua histórica conexão holandesa, e espero que este Instituto Abraham Kuyper para Teologia Pública alimente o relacionamento e o uso da sua excelente localização no Seminário de Princeton para promover o diálogo e divulgação intencional sobre Kuyper. Gostaria de parabenizar Princeton pela abertura deste instituto, também em nome do presidente da Free University of Amsterdam, e espero que Max Stackhouse e sua equipe consigam fazer deste Instituto como a harpa eólica que Kuyper escreveu no final de sua última palestra em Stone: suas cordas estão corretamente afinadas, prontas na janela, aguardando o sopro do Espírito.

[1] Allan Boesak, Black and Reformed: Apartheid, Liberation and the Calvinist Tradition, ed. Leonard Sweetman (Maryknoll: Orbis 1984), 83.

[2] A. Kuyper, Calvinism: six Stone-lectures, (Fleming H. Revell Company, New York 1899), 271: “se alguém nasce como uma menina ou um menino, rico ou pobre, burro ou inteligente, branco ou de cor ou mesmo como Abel ou Cain, é a predestinação mais tremenda concebível nos céus ou na terra.” As palavras em itálico estão faltando na edição holandesa.

[3] Kuyper, Calvinism, 27.

[4] J.C. Adonis, Die afgebreekte skeidsmuur weer opgebou: Die verstrengeling van die sendingsbeleid van die Nederduits Gereformeerde Kerk in Suid-Afrika met die praktyk en ideologie van apartheid in historiese perspektief, (Amsterdam: Rodopi, 1982), 59.